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Carreta da Saúde

     O sábado dia 07 de Setembro de 2019 foi um final de semana diferente na comunidade Vila Paula. Uma imensa carreta levantou poeira da praça logo de manhã, acordando toda a vila. Lá dentro era uma correria para preparar o local a fim de atender a população com o máximo de conforto possível. Limpa, varre, dispõe material, organiza equipes, explica para a população. Um clima de grande empolgação unia os extensionistas. Aliás, o evento foi tão grandioso que houve participação de muitos outros voluntários que não compunham a equipe do projeto. Bastava o desejo de ajudar.

    E o maior contribuinte para que isso funcionasse foi justamente o dono da carreta, o sr. Ezequiel. Ele investiu parte de sua aposentadoria numa carreta que servisse para atendimento ambulatorial pelo país afora. Ao olhar para a população enamorada com o container a sua frente, via-se a recompensa de tamanho feito.

   Tendo o ótimo espaço da carreta como base para realizar um bom atendimento em saúde, restava ainda a organização dos atores ali envolvidos. O corpo de voluntários do projeto nesse dia consistia de alunos do segundo e terceiro ano de medicina, muitos curiosos do primeiro ano, e também alunos do curso de enfermagem e profissionais já formados. Por si só, era um grupo maior do que estávamos acostumados. Apesar disso, um dos pontos-chave que permitiu o sucesso da carreta da saúde foi a presença de funcionários do centro de saúde Cássio Raposo. Foi a primeira ação direta de promoção de saúde que fizemos junto a eles dentro da Vila Paula, e a presença deles permitiu que atividades importantes pudessem ser desempenhadas.

    Depois de organizada, a carreta continha cozinha e banheiro para os voluntários, dois consultórios para serviços ambulatoriais gerais (pesagem, medida da pressão arterial, glicemia capilar, circunferência abdominal, nutrição, possíveis queixas e pedidos para renovação de receitas), um consultório odontológico e uma sala para aplicação de vacinas.

    Todos os pacientes passavam pela recepção à porta da carreta, e logo sentavam nas cadeiras para esperar pelo atendimento.  Logo toda a carreta foi inundada com o falatório incessante de crianças, mães, pais e avós. As primeiras salas a que eram direcionados eram os consultórios de triagem e consulta clínica básica. Nestas salas houve aferição de pressão arterial, pesagem e medida da circunferência abdominal. 

    Após a primeira consulta, os que apresentavam queixas odontológicas eram encaminhados para a sala ao lado. O consultório possuía todo o material necessário para a consulta odontológica. Com a ajuda do Centro de Saúde Cássio Raposo conseguimos uma dentista para atuar gratuitamente conosco neste dia. Por fim, na sala que ficava logo à porta de entrada da carreta, as enfermeiras do centro de saúde aplicavam as vacinas em crianças e também em adultos. 

    A fila se tornava cada vez maior à porta da carreta, e a nossa improvisada sala de espera também ficava cada vez mais cheia. Por esses motivos, procuramos uma solução para agilizar o processo, e evitar que os moradores esperassem por muito tempo. Do lado de fora da carreta, no largo pátio em que ocorrem normalmente as festividades dos moradores da ocupação, instalamos algumas mesas e cadeiras, cobertas por tendas, e chamamos os moradores para passarem pela triagem. Fizemos registro de nome e idade, medida de glicemia capilar e aferição da pressão arterial. Tudo era anotado em fichas que posteriormente seriam repassadas ao centro de saúde. Se identificássemos alterações importantes nos exames, orientávamos os moradores. Muitos já eram cientes de que possuíam doenças como hipertensão e diabetes, e vinham apenas fazer exames de “rotina”, para saber se estavam controlados. 

  O dia pareceu correr muito rapidamente, apesar das atividades terem durado mais do que nossas visitas costumeiras. Alguns alunos ficavam em seus postos, enquanto outros migravam de dentro da carreta para o pátio, de sala a outra, atendendo moradores, aferindo pressão, ouvindo as queixas, ouvindo elogios. Do lado de fora, aqueles que estivessem fazendo a triagem com os moradores tinham, ainda, a companhia das crianças - chamando para brincar, perguntando o que estava acontecendo, pedindo atenção. 

   No final das contas, cada extensionista olhou para esse encontro de uma forma diferente. Distintas reflexões, experiências, conversas, emoções. No entanto, um sentimento transpassou todos os voluntários: a sensação de dever cumprido com a sociedade, pelo menos por um dia. A luta a favor do acesso à saúde continua, enquanto
nós estivermos dispostos a fazê-la.

   Branda de Lima e Guilherme Oliveira 

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